"Você tem que estudar o pedestre", sugere especialista em mobilidade

"Você tem que estudar o pedestre", sugere especialista em mobilidade

Ele é um profundo conhecedor do BRT, sistema de transporte de massa que revolucionou a capital colombiana Bogotá e se transformou em modelo para todo o mundo. Oscar Edmundo Diaz, sócio da consultoria GSD Plus, critica o chamado "culto aos carros" celebrado nas grandes cidades e defende políticas públicas que priorizem os pedestres, os ciclistas e o transporte público.

"O problema é que as cidades estão sendo feitas só para solucionar o problema dos carros. Você tem que estudar o pedestre. Primeiro, você tem que saber para onde a pessoa está indo e por quê", afirmou Diaz na terça-feira, 19 de novembro, durante sua apresentação no Exame Fórum Sustentabilidade, realizado em São Paulo.

O especialista exibiu uma série de imagens que denunciam irregularidades comuns nas grandes cidades: uma calçada sem espaço para as pessoas caminharem, uma faixa de pedestre que termina em uma calçada cercada por grades (o que impede a travessia), uma ciclovia que é, abruptamente, interrompida por uma parede ou um poste.

Mas seguem os dilemas. Com recursos sempre limitados, é preciso tomar decisões: pavimentar ruas para os carros ou criar uma área para pedestre? Ou uma ciclovia? Ou quem sabe criar uma faixa para BRT? Melhor ainda, por que não garantir infraestrutura para pedestre e ciclistas num mesmo espaço?

"Isso é repensar o espaço público de forma mais igualitária", enfatizou Diaz. Segundo o especialista, cabe aos governantes decidirem dar mais espaço para o transporte publico, esquecer de vez os carros e pensar nas pessoas.

Para o colombiano, os engarrafamentos são "bons", porque incentivam outros meios alternativos de locomoção e motivam as pessoas a viverem mais próximas do trabalho. "Quando os prefeitos fazem rodovias, é um erro, porque eles estimulam as pessoas a viverem longe", justificou.

BRT e ciclovias

Atualmente, nem mesmo Bogotá escapa dos engarrafamentos. O TransMilenio, seu sistema de transporte de massa baseado em ônibus, e que foi inspirado no BRT de Curitiba, está lotado. "Você tem que dar mais espaço para o transporte publico e mais espaço para as pessoas", sugeriu Diaz.

Para o especialista, o BRT não é uma solução só para os países de baixa renda, mas para o transporte em geral, pois é mais barato que metrô - e por ser mais barato, você pode ter mais corredor e mais disponibilidade de transporte.

Expandir ciclovias é outra solução barata e eficiente. "Eu vou de bicicleta ao meu escritório, são aproximadamente 6 km, gasto 22 minutos. Se eu for de carro, gasto pelo menos 45 minutos, sem falar do estresse. De bicicleta eu chego antes, mais tranquilo e dá até para ter ideias criativas. Ouvi dizer que Einstein pensou na teoria da relatividade andando de bicicleta", contou.

Os benefícios de investir no transporte público e em ciclovias vão muito além das questões ambientais. "Onde o TransMilenio, ciclovias e espaços públicos foram construídos em Bogotá, as vendas aumentaram 23%. Afinal, os pedestres tomam as ruas, não mais os carros", concluiu.