Cicloviagem João Pessoa - Natal (janeiro/2008)


Para tornar o blog mais útil para aqueles que procuram informações sobre cicloviagens, cicloturismo e viagens em geral, revisei esta postagem de 2008 sobre nossa viagem de bicicleta de João Pessoa (PB) até Natal (RN), na Região Nordeste do Brasil. Nosso objetivo alcançado foi pedalar pelas praias aproveitando a maré baixa, na maior parte do percurso.

Total pedalado em 4 dias = 167 km

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Primeiro dia: 50 km - de Cabedelo (PB) até Baía da Traição (PB)

Praias que conhecemos no primeiro dia:
- Costinha
- Fagundes
- Gameleira
- Lucena
- travessia do Rio Miriri (a pé)
- Oiteiro
- Campina
- Barra do Mamanguape
- travessia da Barra (barco à vela)
- Coqueirinho
- Trincheira
- Baía da Traição

Seguimos para João Pessoa de carro, levando as bikes no suporte, deixamos o carro na casa de um amigo na praia de Intermares e seguimos para a lancha que faz a travessia do Rio Paraíba
de Cabedelo para a praia da Costinha.

Essa lancha é uma carroceria de ônibus colocada sobre um barco, um verdadeiro barco-bus.

Seguimos pela praia pois a maré estava baixa, conforme a tábua de marés que a gente havia copiado. Essas primeiras praias são semelhantes às de Alagoas e Pernambuco, tipo São José da Coroa Grande (PE).

Passamos a cidade de Lucena e conseguimos chegar ao Rio Miriri com a maré baixa, e assim conseguimos fazer a travessia do rio a pé. A correnteza é forte mesmo na maré baixa, e na alta a travessia tem que ser feita de barco. Há um barquinho que faz a travessia, subindo o rio cerca de 500 metros apenas.

A curiosidade nesse trecho foi que passamos por dois ciclistas que estavam passeando pela praia. Quando passei pelo homem e cumprimentei, ele acelerou e passou a conversar comigo, e disse que fazia trilha etc e tal e estava ali pedalando com a filha. Ficou com vontade de ir com a gente, ficou com vontade de viajar de bici, etc. Ele e a filha nos acompanharam até o rio Miriri.

Depois da travessia, seguimos por praias quase desertas. Paramos na praia da Campina para tomar um refrigerante, comprar água mineral e comer biscoitos. Novamente seguimos por praia deserta, até que chegamos na pontinha da Barra do Mamanguape. Fomos fazendo a curva da Barra e verificando a imensidão dessa baía. Os barqueiros cobram caro por essa travessia, em torno de 10 reais por pessoa, mas temos que levar em consideração que a distância é muito grande e que eles nos levam à vela, mas voltam remando pois o vento é contrário.

Encontramos o barqueiro Nino e seu barco, o Rodolfo, que nos levou para o outro lado da Barra, para a praia de Coqueirinho. A travessia dura mais de meia hora. Calculo que seja uma distância de 4 km.

Depois da praia de Coqueirinho, onde há uma igrejinha na beira-mar e uma procissão de barcos em dezembro, a maré estava enchendo e foi ficando cada vez mais difícil de pedalar. Passamos a empurrar as bicicletas. Em alguns locais, subi a praia, muito inclinada, pela areia fofa, quase como uma duna, para ver se havia alguma estrada. Havia uma estradinha mas era também de areia fofa.

Vimos que na parte mais alta da praia, a areia fofa era coberta de vegetação rasteira. Subimos e empurramos as bicicletas por ali, pois a vegetação, mesmo rala, ajudava a não afundar as rodas. Havia muitos espinhos e cactus mas não houve pneu furado. Uns espinhos entraram na minha perna, na hora nem percebi, depois de um tempo foi que vi e tirei, nos dias seguintes fez
um carocinho inchado no local, imagine.

Depois de bastante tempo empurrando, e encontrando algumas cruzes de madeira colocadas no topo das praias, de frente pro mar, encontramos alguns pescadores na praia que nos informaram que mais adiante havia uma estrada de barro paralela ao mar. Subimos no local indicado e encontramos a estrada, seguimos por ela, encontramos outra estrada, asfaltada, e chegamos à Baía da Traição.

A primeira pousada que encontramos era boa, mas ainda fomos até o centro da cidade para ver as outras opções. Por fim, voltamos para a primeira pousada que era mesmo a melhor. Pousada das Ocas, onde cada quarto é na forma circular de oca de índio, pois há muitas reservas indígenas nessa região. De cada quarto se vê o marzão. Alugamos o quarto e já pedimos o almoço, lagosta ao molho de coco, baratíssima aqui, a 30 reais. Almoço, banho de mar, banho de piscina, lavagem e lubrificação das bicicletas, passeio pela praia, um belo por do sol na baía. De noite, jantamos na nossa pousada mesmo, a ceia, com café e leite e macaxeira e carninha guisada e ovinhos, e repetimos.

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Segundo dia: 42 km - de Baía da Traição (PB) à Baía Formosa (RN)

Praias que conhecemos no segundo dia:
- Forte
- Giz Branco
- Cardosas
- Barra de Camaratuba
- Baleia
- Pavuna
- Barra do Guaju
- Sagi
- Cachoeira
- Barreirinha
- Farol
- Bacopari
- Baía Formosa

Depois do café da manhã e de muita conversa sobre bicicletas e sobre as praias que iríamos encontrar com os donos da pousada, descemos para a praia, maré baixando, e seguimos. Apesar da maré baixa, essas praias da região apresentam uma areia grossa, pesada, que parece agarrar o pneu das bicicletas. É uma areia batida mas que não permite uma boa velocidade e em muitos trechos o pneu afunda.

Chegamos à Barra de Camaratuba, um lugar belo, rio de águas claras desembocando no mar. Há uma balsa, subindo o rio, mas na maré baixa dá pra atravessar a pé. Subindo o rio, há uma trilha que leva à Lagoa Encantada, mas como a gente dependia da maré baixa, resolvemos deixar para visitar a
Lagoa em uma outra viagem. Seguimos e no horizonte surgiram muitas turbinas eólicas. Como são
imensas, demorou muito até chegarmos perto delas. Ficam na divisa entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, ao lado rio Guaju.

Chegamos ao rio Guaju, onde há uma pequena balsa para travessia mas com a maré ainda baixa, conseguimos atravessar a pé. Tomamos um banho de rio pra baixar o calor e água de coco em umas barraquinhas na margem do rio. Não há cidade perto, mas como o lugar é muito bonito com rio
e dunas e skibunda, os bugueiros trazem os turistas a partir de Sagi e Baía Formosa.

Seguimos e perto da praia de Sagi já estava enchendo o mar e ficando difícil de pedalar. Subimos para ver a estrada de barro que conduz à Baía Formosa, mas essa estrada desvia-se para muito longe do mar, então voltamos à praia. Daí em diante, mais empurramos as bicis do que pedalamos. Passamos pela entrada, sinalizada, da Mata Estrela e da Lagoa da Coca-cola, de águas negras, mas não entramos, fica pra próxima, pois já estava difícil chegar nesse dia. A maré encheu de vez, só havia a faixa de areia fofa. Faltando cerca de 5km para a Baía Formosa, alugamos um buggy para nos levar.

Em Baía Formosa, hotel, almoço, peixe!, banho de piscina, passeio pela praia até a enseada. No fim da tarde, fui novamente até a praia, que tem ondas enormes e violentas e entrei no mar. Muito divertido, tentar resistir à violência das ondas e levar uns sarrabulhos. Lavagem e lubrificação das bicis. De noite, comemos no hotel, a ceia, café com leite, ovos, tapioca, etc etc.

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Terceiro dia: 32 km - de Baía Formosa (RN) até Tibau do Sul (RN)

Praias que conhecemos no terceiro dia:
- Barra de Cunhaú
- Sibaúma
- As Minas
- Moleque
- Amor
- Pipa
- Madeiro
- Cacimbinha
- Tibau do Sul

Esse foi o dia mais difícil pois além da areia grossa e pesada, as praias desse trecho são separadas, muitas vezes, por falésias terminadas em pontas rochosas, ou seja, na ponta da falésia não há praia de areia, apenas as rochas, muitas rochas irregulares dificílimas de passar com as bicicletas.

Depois do café da manhã, seguimos pela enseada da Baía Formosa, que só dá para passar na maré baixa. É uma longa enseada em forma de ferradura, cercada por falésias enormes. Depois da enseada a praia fica reta e então chegamos até a Barra do Cunhaú. Há duas balsas fazendo a travessia e o rio é largo, não permite a travessia a pé. Tomamos a balsa, e no outro lado, compramos
água mineral e água de coco e conversamos com o pessoal sobre as próximas praias. Apesar da proximidade com a praia da Pipa, não há buggys na areia pois os escolhos não permitem a passagem. Realmente, o maior trânsito de buggys na areia da praia é no trecho entre a Baía Formosa e a Barra do Guaju. Então, sempre entre um trecho de praia e outro, tínhamos que passar por cima
das rochas, empurrando ou carregando as bicicletas. Na praia da Pipa, tomamos água de coco, compramos água mineral para encher as caramanholas e seguimos.

Entre a Pipa e a praia do Madeiro, existe o maior trecho de rochas contornando toda uma enorme falésia. Esse trecho deve ter 1km de extensão, talvez mais, e é impassável carregando bicicletas e bagagens. Nós passamos com muita dificuldade. Foi uma loucura, pedras enormes, o peso das bikes, a altura e a possibilidade da queda nas pedras, o cansaço. Acho que levamos quase uma hora para atravessar esse trecho. Nessa travessia, com as pancadas e as vezes em que a gente não conseguia segurar as bikes, o câmbio da bici de Eliane entortou um pouco, e o câmbio da minha perdeu uns dois dentes.

Na praia do Madeiro, tomamos água de coco e refrigerantes. Esta praia é cercada de falésias e de pontas rochosas nos dois lados. Somente se chega a pé, ou descendo as falésias por longas escadas de madeira. Há golfinhos que vêm nadar perto dos banhistas, isso nós vimos acontecendo lá. Seguimos, e ao final da praia do Madeiro, nova travessia de rochas, embora menor que a anterior.

Depois do Madeiro, a praia de Cacimbinha foi tranquila, pedalável, sem problemas. Enfim chegamos à ponta de areia que separa o mar da Lagoa Guaraíra, em Tibau do Sul. Esse talvez seja o local mais belo que encontramos em toda a viagem. A Lagoa Guaraíra é enorme, de grande embocadura, e se liga ao mar em um local de altas falésias. Subimos a partir da praia e encontramos um hotel que fica exatamente em cima da falésia, com uma vista maravilhosa da região.

Alugamos um chalé. banho de piscina, almoço na beira da piscina, passeamos pela falésia, terreno do hotel, e mais tarde fomos ver o por do sol na Lagoa Guaraíra, de cima da falésia. Essa lagoa é sensacional e inclusive há passeios de caiaque de dia inteiro por ela. Lavagem e lubrificação das bicicletas, jantar, etc.

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Quarto dia: 43 km - de Tibau do Sul (RN) até Natal (RN)

Praias que conhecemos no quarto dia:
- Guaraíra
- Barreta
- Camurupim
- Tabatinga
- Búzios
- Pirangi
- Pium
- Cotovelo
- Ponta Negra

Café da manhã, bagagens e saímos. Descemos a falésia e a balsa estava saindo, esperaram a gente, entramos na última hora e atravessamos a belíssima Lagoa Guaraíra. Seguimos pela praia de Guaraíra, maré baixa, pedalável, reta, areia grossa avermelhada. Chegamos à praia da Barreta.
Na verdade, Barreta e Camurupim são praias muito parecidas, com um enorme recife em forma de laje, que separa, na maré baixa, totalmente o mar da areia, e na maré alta forma piscinas. Em alguns trechos, pedalamos por cima da laje dos arrecifes, em outros, só havia pedra irregular e areia fofa, então subíamos para uma estrada que segue paralela ao mar.

A praia de Tabatinga é cercada de falésias e as famigeradas pontas rochosas, então seguimos pela estrada por cima da falésia de onde se tem a visão total do todo pan-orama. Depois seguimos e
descemos a falésia pelo asfalto, onde cheguei a 71 km/h mas acho que foi doidice do odômetro. Talvez, o vento empurrando, o peso aumentado pela bagagem... talvez, mas acho mais que foi erro do odo.

Descemos e chegamos à praia de Búzios, bela, mar azul, reta, com ondas na medida certa. Tomamos água de coco e refris. Seguimos e atravessamos a pé um riozinho na praia de Pirangi. Depois das praias de Pium e Cotovelo, subimos para o asfalto e seguimos pela Rota do Sol, passando pela Barreira do Inferno, até a Ponta Negra, a primeira praia de Natal. Fizemos assim pois com a maré cheia não dá para chegar até Ponta Negra pela praia.

Em Ponta Negra, alugamos quarto em um hotel, banho, fomos até a beira-mar onde almoçamos um rodízio de camarão, passeamos até o Morro do Careca, depois fomos na Localiza onde alugamos um carro. Voltamos para o hotel e priu. Lavagem e lubrificação das bicis.

No quinto dia, passeamos na praia de Ponta Negra, banho de mar, etc, no hotel, desmontei as rodas e coloquei as bicis no carro, bagagem, etc, e seguimos para JP. Lá passei as bicis para o suporte do carro de Eliane, devolvemos o carro na Localiza e voltamos para Recife, fim.

Enfim, mesmo com todo meu cuidado, médio, de lavar e lubrificar as bicis todo dia, elas sofreram bastante pois muita areia e muita maresia. Uma divertida viagem que vale a pena até refazer, um dia.