Escolas de bicicleta em São Paulo

Primeiras Escolas de Bicicleta estão funcionando em São Paulo
O programa "Escolas de Bicicletas", único de formação de ciclistas urbanos do mundo, criado pela Secretaria Municipal de Educação, já tem alunos formados, que passam a fazer o trajeto casa-escola com bicicletas de bambu. Até dezembro, os 45 CEUs terão cerca de 4,6 mil alunos formados.

A partir desta segunda-feira (4/6), bicicletas de bambu, antes inéditas no Brasil, passam a circular pela cidade São Paulo pelas mãos dos alunos da Rede Municipal de Ensino. O programa Escolas de Bicicletas, único de formação de ciclistas urbanos do mundo, criado pela Secretaria Municipal de Educação, acaba de formar a primeira turma de alunos no CEU São Mateus, localizado na Zona Leste. O projeto começou em março. Até dezembro, os 45 Centros Educacionais Unificados (CEUs) da cidade e o Centro de Convivência Educativo e Cultural de Heliópolis terão cerca de 4,6 mil estudantes formados.

"Eles são o espelho do programa que atingirá todos os cantos da cidade", afirma Daniel Guth, coordenado-geral do programa que une educação e sustentabilidade. Cada Escola de Bicicleta terá até o fim de 2012, cem alunos ciclistas, entre 12 e 14 anos, que farão diariamente o trajeto casa-CEU-casa em comboios de 15 a 25 estudantes. Dentro da escola eles têm paraciclos para o estacionamento das bikes e monitores treinados pela secretaria e pelo Instituto Parada Vital, que ensinam desde noções de equilíbrio até regras de trânsito e manutenção das bicicletas. Ultrapassados os muros da escola, os alunos ganham juntos as ruas do bairro, em ciclo-rotas criadas por uma equipe do CEU, pedaladas e aprovadas por ciclistas experientes.

Ruas de São Mateus

Leonardo da Silva de Souza, 18 anos, é o monitor de um grupo de 19 crianças que todos os dias irá para escola com a nova bike. O caminho para chegar ao CEU passa pelas travessas Manhã de Carnaval, Sabor de Mim, País Tropical, ruas tranquilas do bairro Parque Boa Esperança, mas que agora chamam a atenção do moradores. Quando o comboio passa, eles gritam: "olha a bicicleta de bambu do CEU!". Leonardo, também morador do bairro, nunca imaginou antes ter como instrumento de trabalho, em seu primeiro emprego, uma bicicleta. "Agora ela é meu ganha-pão, já faz parte de mim", garante. E acrescenta: "para quem eu conseguir passar esse novo estilo de vida, eu vou tentar".

Preparando um ciclista

A Secretaria Municipal de Educação e o Instituto Parada Vital formularam uma metodologia conjunta para treinar e capacitar monitores que atuam diretamente com os alunos nos CEUs. Além de conhecimentos sobre legislação, normas e regras de trânsito na cidade de São Paulo, os monitores tiveram curso de primeiros-socorros, aprenderam sobre a mecânica das bikes e estão capacitados a ensinar o aluno a pedalar, ter equilíbrio, autonomia com as mãos, entre outros aspectos cognitivos.

O caderno de um aluno que faça parte do projeto Escolas de Bicicleta tem lições sobre legislação de trânsito, transporte sustentável, estilos e modalidades de bicicleta, oficina de mecânica e montagem, história e cultura da bicicleta, educação ambiental, e até orientações sobre liderança e mediação de conflitos. Terminadas as anotações, é hora de subir na magrela e treinar equilíbrio, postura e resistência. Até mesmo a criança que nunca andou de bicicleta pode se tornar um aluno-ciclista. "Com o novo projeto temos mais segurança para andar nas ruas. E vamos mostrar para as pessoas como andar de bicicleta é legal e bom para o meio ambiente", diz Edmilson Henrique Ferreira, 15 anos, o novo ciclista da Escola de Bicicleta do CEU São Mateus.

Os principais critérios para a escolha dos jovens são: ser aluno da escola de Ensino Fundamental do CEU; ter prioritariamente entre 12 e 14 anos; morar no entorno da ciclo-rota indicada e ter o consentimento dos pais. Ao final de um mês de aula, cada aluno recebe um certificado, entregue na presença dos pais, para que possa, a partir daí, fazer o trajeto diário casa-CEU-casa, com seus colegas.

Dinamarca-SP

Para pôr essa ideia no asfalto, a Secretaria Municipal de Educação teve como consultor o dinamarquês, especialista em mobilidade urbana, Mikael Colville-Andersen, que criou o conceito Copenhagenize, uma proposta para inspirar as cidades de todo o mundo a se tornarem amigas dos ciclistas, como é a capital da Dinamarca, onde 37% da população (500 mil pessoas) usa a bicicleta como meio de transporte todos os dias. Segundo Mikael, com este novo programa, as crianças e jovens criarão a "cultura da bicicleta emergente", ou seja, as bicicletas são um símbolo daquilo que se deseja para a cidade. "Não é uma questão de tirar todos os carros da rua, mas de promover o retorno das bicicletas, pela saúde das crianças, para transformar as comunidades em lugares melhores para se viver." Para ele, "o programa vai inspirar muitas cidades ao redor do mundo".

Segundo Daniel Guth, a segurança é garantida pelos monitores, pelas ruas tranquilas, onde o compartilhamento já é natural e pela conscientização de toda comunidade. "O comboio tem esse papel educativo que é diário: você tem uma bicicleta que é de bambu, colete, capacete, monitor, crianças juntas; na primeira semana o bairro todo já sabe daquilo e passa a respeitar." E completa, "Copenhague não é São Paulo, mas São Paulo pode ser cada vez mais Copenhague".

Kit

As bicicletas do programa são customizadas e inéditas no país. Os quadros feitos de bambu foram criados pelo designer brasileiro Flávio Deslandes, que inventou a primeira bicicleta de bambu em 1995 e hoje desenvolve seus projetos na Dinamarca. No Brasil, elas estão sendo construídas dentro do CEU Jardim Paulistano. Além das bikes, os alunos recebem um kit composto por capacetes, iluminação, colete refletivo, bagageiro e alforje, buzina, espelho retrovisor e cadeado. A Secretaria Municipal de Educação investiu R$ 3,1 milhões na implantação do programa. O investimento para manter o programa é de R$ 1,4 milhão por ano.