Três cabeças douradas


Este é um trabalho do ano de 2003 - chama-se "Três cabeças douradas". Este trabalho estava guardado e - sim - meio abandonado. O preto estava empoeirado e o dourado estava menos dourado. Por conta de coisas e descaminhos que a gente não explica - ou não quer explicar - esse que é um dos trabalhos de arte que gosto muito, ficou esquecido algum tempo. Hoje, por esses dias, eu o reencontrei  - e me reencontrei com ele - e praticamente executei sua restauração. O preto voltou a ser preto e o dourado voltou a brilhar.

Esse é um trabalho pequeno, cerca de 25 x 25 cm, e de simples execução. Peguei três cabeças de bonecas e cortei-lhes os cabelos - como a madrasta da história - e prendi as cabeças com arame nessa moldura. Curiosamente, as "Três cabeças douradas" iriam ser um presente para uma moça que conheci e que curtia arte contemporânea. Terminei me afastando dela e - paralelamente - me afeiçoando bastante ao trabalho, de tal forma que ele não foi dado de presente e ficou comigo.

Quanto ao trabalho em si, ele me parece fazer referência a uma tendência universal da arte - qual seja maltratar, violentar, ferir, machucar as mulheres. Frente ao mistério que existe no feminino, resta quebrá-lo, desmontá-lo, já que não se pode apreendê-lo. Era, por exemplo, o que Picasso fazia com Dora Maar. Também penso nas três Graças e nas três Harpias e, ainda, nas três bruxas de Macbeth.