bicicleta em dia de eleição

(foto: voltando para casa em um dia comum)

foi bom o domingo, dia de ser obrigado a ir votar. se não fosse, pagava três reais e cinquenta centavos, mas a burocracia até o momento de pagar deve ser chatesésima. saí de bicicleta em direção a olinda, cidade perto de recife, onde voto. já na avenida norte, caiu o maior pé dágua, de repente, de um minuto para o outro. claro, o céu nublou um pouco, antes. mas a chuva começou sobre mim repentinamente. subi a calçada e me abriguei em um das inúmeras cobertas metálicas das lojas. parou outra bicicleta junto a mim. choveu forte por poucos minutos. logo já clareava para o lado do mar. a avenida norte virou um rio. como sempre acontece no recife, quando chove. chuviscava, mas havia muita água na avenida. um grupo de mulheres e crianças se abrigou também naquela coberta. a maior parte dos veículos passava pelo meio da avenida, próximo ao gelo baiano, evitando a maior concentração de água perto das calçadas.

um ônibus viu a água e viu as pessoas abrigadas e decidiu - d e c i d i u - passar pela água levantando um enorme esguicho de água em direção a nós. a água suja molhou levemente algumas crianças que estavam mais para fora, na calçada. o motorista fez isso porque quis. o motorista fez isso porque deve odiar o mundo e o ônibus e a sua vida de merda. só pode ser essa a explicação.

como enfrentar esse tipo de ódio gratuito que se encontra tão frequentemente nas metrópoles?

a chuva passou de vez. segui pela avenida norte desviando dos rios criados pela chuva rápida. no caminho para olinda, um sol fortíssimo secando tudo que havia sido molhado. cheguei em olinda, votei. não havia filas, a votação era muito simples, um único número de dois dígitos. voltei para o recife. alimentei o cachorro que cuida do atelier da torre. casa. banho. roupa.

caminhei até o cinema. assisti ao primeiro filme que estava disponível. queria entrar na sala escura, comer pipoca. o filme, uma comédia bem bestinha mesmo, sem começo nem fim. caminhei de volta para casa.

de noite, vi na tv o discurso da presidente eleita: frio, técnico, rosto impassível. no dia seguinte, hoje, vi na tv um telejornal em que falaram três ou quatro vezes em palavras como emoção, emocionada. onde é que esses jornalistas de segunda categoria estão com a cabeça? em que planeta eles assistiram ao discurso? oxe!