rua revolucionária - revolutionary road


um trecho do livro "revolutionary road" de richard yates - tradução de josé roberto o'shea - quando o personagem frank wheeler está recordando o tempo que passou em paris, durante a segunda guerra, nas folgas do exército.
depois que a esposa, april, diz que ele conhece a cidade...
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Ele disse para si mesmo que, afinal, aquilo era em grande parte verdadeiro. Sabia onde se situava a maioria dos "cartões-postais" da cidade, por força das diversas licenças de três dias gozadas em Paris anos atrás; também sabia como ir de qualquer um daqueles locais turísticos até o Post Exchange norte-americano e o Clube da Cruz Vermelha, e como chegar à praça Pigalle, como escolher uma prostituta e que cheiro teria o quarto dela. Sabia dessas coisas, e sabia também que a melhor região de Paris, a região onde as pessoas sabiam viver, começava em torno de Saint-Germain-des-Prés e se estendia para o sudeste (ou seria sudoeste?) até o Café Dome. Mas essa última informação baseava-se mais na leitura de "O sol também se levanta", quando ele estava no ensino médio, do que em suas incursões pelo bairro, na maioria das vezes desacompanhado e com dores nos pés. Ele admirara a delicadeza antiga dos edifícios e o modo como a iluminação pública provocava leves explosões de verde-claro nas árvores à noite, e o modo como as varandas compridas dos cafés sempre revelavam um mar de rostos inteligentes e falantes enquanto ele passava; mas vinho branco lhe causava dor de cabeça, e os rostos falantes, vistos de perto, pareciam de homens barbudos e arrogantes ou de mulheres cujos olhos o avaliavam e descartavam em menos de um segundo. A cidade lhe propiciara a sensação de que a sabedoria ficava além de seu alcance, de que um charme indescritível ficava logo adiante de cada esquina, mas ele apenas caminhava até quase perder as forças pelas infindáveis ruas azuladas, e aquelas pessoas que sabiam viver guardavam para si o segredo, e muitas vezes ele acabava bêbado e vomitando da boléia do caminhão que o transportava sacolejando de volta para o alojamento do Exército.